A escola brasileira deve ensinar, formar, educar ou obedecer? (Junho/2011)

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Há dezenas de projetos tramitando no congresso nacional. Alguns estão parados há anos e outros até já perderam o interesse dos congressistas. Mas dezenas de outros estão sendo aprovados e sempre passando para a escola mais responsabilidades.

A Comissão de Educação do Senado aprovou, no dia 14 de junho,  projeto de lei que determina ser responsabilidade da escola evitar episódios de bullying.
Outro projeto que tramita no congresso determina que as diretoras ou diretores de escolas devam fixar a nota da escola no IDEB em local visível à comunidade.
O objetivo do projeto aprovado no Senado é que os estabelecimentos de ensino tenham a incumbência de inibir situações em que os estudantes fiquem expostos a agressões de colegas, como se isso fosse possível.
Além disso, o texto aprovado prevê que as escolas devem garantir um ambiente seguro e prevenir o bullying.  Mais uma vez, ninguém fala quando e como os profissionais das escolas públicas serão orientados e treinados para cumprir com mais esta determinação.
Em ambos os casos, não é possível discordar de que a escola tenha parte da responsabilidade, mas dizer que a escola tem que evitar situações de agressões entre os alunos ou instalar placas em frente à escola com a nota do IDEB é desconhecer as responsabilidades dos governos municipal, estadual e federal sobre as escolas de suas redes.
Em Santa Catarina as escolas de rede estadual, por exemplo, dependem de aprovação do governo para comprar qualquer coisa. E ainda precisam dividir as verbas do FUNDEB, com outras instituições, pois são desviadas.
Já podemos prever, então,  que muitas terão dificuldades para colocar a placa em frente à escola. E além disso, boa parte delas não deve ter muito interesse em divulgar seu IDEB.
Uma escola de ensino médio de Joinville fornece merenda salgada a seus alunos somente duas vezes por semana porque não tem dinheiro para comprar gás. Nos outros três dias da semana, os alunos comem apenas biscoitos.
É... a situação da educação no Brasil não é nada boa. Os empresários estão mandando jovens estudar em outros países porque aqui já não há escolas eficientes.
O governo federal estipulou um piso para o magistério que estados e municípios não pagam, e arranjam todo tipo de justificativa para não pagar.
Em praticamente todo o país, há professores em greve. A motivação é sempre a mesma, a categoria quer ver implementado seus planos de carreira com os benefícios e os valores reajustados de acordo com o novo Piso Nacional de Professores.
Na quase totalidade dos estados e municípios, a imprensa e mesmo os pais compreendem as razões, consideram justa a luta dos professores, mas querem mesmo é ter um lugar para deixar seus filhos enquanto trabalham.
Entretanto, não se vislumbra nas ações dos governos municipais, estaduais e mesmo federal, a real priorização da educação. O Brasil precisa de mão de obra especializada. Mas não é de qualificação em tecnologia, de que se fala. Trata-se de ter disponibilidade para estudar e de saber ler, escrever e fazer cálculos para que se possa assimilar e aprender o treinamento específico da profissão, que a empresa ensina no trabalho.
O que nossos jovens precisam é serem proativos em relação à própria vida. E por diversas razões a escola, os governos e mesmo os pais não têm conseguido inculcar em seus filhos o gosto e o respeito pelo estudo.
Da escola os estudantes gostam, o problema é que não gostam do que ela lhes oferece, conhecimento que precisa ser aprendido, estudado, aprofundado e reaplicado em benefício da sociedade.
E nossos deputados e senadores   continuam mandando a escola fazer esta e aquela coisa, incumbência que seriam de psicólogos, sociólogos e de outros órgãos.
A cada novo projeto, os profissionais da educação já sobrecarregados com as atividades próprias do magistério as quais já não conseguem cumprir, ficam ainda mais assoberbados.
Quando será que nossos ilustres legisladores mandarão fazer mais um projetinho para a escola cumprir?  Que tal impor “motivação para estudar” por lei ordinária?