Até o final da década de 1980, o professor era o responsável pelo ensino e estava em contato direto com os pais de seus alunos. Os pais eram os principais defensores do valor da escola e estabeleciam regras e limites aos filhos.
Os filhos eram confiados aos professores por seus pais. Não havia intermediários nesta relação de respeito ao saber e confiança na sabedoria do mestre. Os responsáveis pelo educando, compareciam à escola nas reuniões periódicas programadas pela escola, com muito respeito e até veneração, para conversar com o professor ou professora de seu filho ou filha e ninguém mais.
Não raro, o professor era procurado pelos pais para receberem orientação de como lidar com as dificuldades de aprendizagem da criança que era efetivamente o centro dos cuidados de todos.
Cada um fazia a sua parte. O professor planejava e executava o ensino. Os pais ensinavam o valor e o respeito ao professor. O diretor administrava a estrutura escolar visando a criar um ambiente favorável à aprendizagem. Boa parte da manutenção e ampliação das escolas era feita pelos pais.
Nas escolas maiores, os diretores e demais trabalhadores auxiliavam os professores e os pais, nessa relação de amor incondicional pelo ensino. Seu papel não interferia de modo algum na comunicação entre os pais e professores.
O aluno era do professor, assim como o paciente é do médico. Os pais sempre entregaram seus filhos ao professor, o profissional responsável por ensinar seu filho, e não à escola.
Afinal, pessoas se relacionam e aprendem com pessoas e não com instituições, que são somente o local no qual as pessoas se aproximam (ou se afastam) umas das outras.
Com a abertura democrática e o crescimento da interferência política partidária na escolha dos diretores, foi sendo instituída uma nova e contraditória forma de intervir na aprendizagem. Indicados por políticos, os diretores de escola, em sua quase totalidade, ganhou dois “patrões”.
A relação com os pais passou, de puramente pedagógica na relação com o aluno, para a de eleitores. Nesta nova configuração de escola, a aprendizagem dos filhos foi sendo gradativamente transformada em moeda de troca.
Ao mesmo tempo, o professor foi sendo destituído de sua função primária: ensinar. Transformado em um profissional em serviço na educação, perdeu, aos olhos dos gestores, de muitos pais e até mesmo dos alunos, o poder sobre o processo do ensino. É como se ele necessitasse do aval de alguém que está do lado de fora para cumprir sua função dentro da sala de aula.
Gradativamente, a equipe gestora passou a intermediar na comunicação entre o profissional em atividade na sala de aula e os pais de seus alunos.
Sob a alegação de que os pais não gostam dessa ou daquela atitude ou estariam dispostos a processar o professor, se colocam entre os dois, visando “proteger o profissional”.
Talvez esta tenha sido a estratégia que mais contribuiu para acelerar o processo de desvalorização do professor, pois repassa à família, a ideia de ser um profissional sem autonomia.
Ao mesmo tempo, foi sendo tirado dos pais a responsabilidade de prover os filhos das necessidades básicas, como comer, vestir e ter material escolar. Merenda, material escolar e uniforme passaram a ser ofertado graciosamente pela escola.
“Tutelados” pelo poder público, pais e professores foram sendo desautorizados perante aos próprios filhos e alunos. Tratados como incapazes de cumprir seus papéis primordiais, os responsáveis pelo ensino perderam as condições para assegurar a aprendizagem e se tornaram reféns da estrutura escolar.
Os ruídos provocaram falhas na comunicação entre quem deveria ensinar e quem deveria ajudar o filho a aprender. E, assim como em todo processo de comunicação em que há um intérprete, versões diferentes de conteúdos chegam aos interlocutores.
Entre os principais ruídos nessa comunicação indireta estão:
1- O professor é considerado incapaz ou é impossibilitado de conversar diretamente com os pais, a quem é atribuído por meio de ações, o poder de escolher o que e como ensinar ao filho.
2- O pai ou mãe se sente no direito de ir à escola sem agendar com a professora de seu filho e a direção permite que ‘mande recado’ por meio de outro profissional da escola ou pior, tira o professor da sala de aula.
3- A direção da escola não privilegia a permanência do professor em sala de aula, interrompendo a aula de 30 alunos para atender aos caprichos de um pai que foi à escola sem agendar.
Para reverter este processo, o encontro entre pai e professor deve ser marcado num horário viável prioritariamente ao professor e, preferencialmente, na hora atividade, conforme prevê a lei brasileira.
Os pais precisam poder confiar seu filho ao professor. Pois a eles cabe ensinar o valor da escola, o necessário respeito ao professor, O PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO. Vale lembrar que os ruídos interferem na comunicação, no humor e até mesmo na sanidade mental dos interlocutores. Nesse processo, o único a perder é o aluno.
Cabe ressaltar que é o professor o executor das políticas públicas e currículos definidos pela sociedade. Dentre todos os profissionais em exercício na escola, o que tem a formação e a atribuição de ensinar. É quem está na sala de aula e é somente ele que sabe o que deve ser feito para que aquele ser humano em formação aprenda mais e melhor para a sua vida.
Aos diretores e equipe gestora cabe pura e tão somente estabelecer os limites aos alunos e da participação dos pais na escola. A diretora da escola deve eliminar os “ruídos da comunicação” entre os pais, mães ou responsáveis pelo aluno e sua professora ou professores.
É a equipe gestora da escola que deve devolver os alunos e seus pais aos professores. Deste modo, a diretora ou gestores estarão devolvendo a si e à escola, sua incumbência primária: ensinar nossas crianças a responsabilizar-se pelos próprios atos e escolhas e pela própria aprendizagem.