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Despreparados é pouco (JE294)

No domingo, dia 17 de abril, a Nação brasileira assistiu atônita, as mais de 500 justificativas de votos dos deputados federais a favor ou contra a aceitação do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff, com base na Lei de Responsabilidade Fiscal. 
Indignação, surpresa, raiva e desespero não faltaram aos brasileiros em frente à TV. 
Sentimentos multiplicados nos momentos e dias seguintes, quando os noticiários ressaltavam os discursos esdrúxulos da maioria dos deputados. 
Despreparo não descreve a capacidade intelectual e política dos deputados se considerados os discursos nos microfones do Congresso Nacional naquele dia. 
Entre todos, o mais criticado, que representa o maior perigo para a nossa recém instalada democracia, e que também acendeu todas as lâmpadas de alerta do restante do mundo sobre nós, foi o do pré candidato a presidente da república, Jair Bolsonaro. 
Ao homenagear o torturador Brilhante Ustra, fez os brasileiros lembrarem a ditadura militar e o que considerávamos incipiente e muito pequeno movimento pelo retorno dos militares ao poder.  
A sociedade brasileira deu resposta rápida e a Ordem dos Advogados do Brasil- OAB e o Partido Verde-PV protocolaram pedido de cassação do deputado por falta de decoro, na Câmara. Mas os eleitores também precisam fazer a sua parte nas eleições.
Não vamos reafirmar a constatação de que nossos representes no legislativo são mal preparados, alguns de baixissimo nível cultural, outros fanáticos e a maioria sequer sabia para, por quem e menos ainda porque foi eleito.  
Além dos discursos, houve cusparada e acusações contra os colegas e o presidente da casa, que também é réu em processo por corrupção e de cassação por falta de decoro. 
Ou seja, fizeram a coisa certa, mas na hora errada. Deveriam fazer tais acusações durante a sessão em que votarão ou não a cassação de Eduardo Cunha.  
Os “discursos tortos” deram abertura para a defesa da presidente entrar com pedido de nulidade da votação.  
E se estas “trocas de elogios” não forem consideradas quebra de decoro parlamentar, a respeitabilidade ao Congresso estará comprometida para sempre. 
Mostrar aos brasileiros quem são seus representes, eleitos pelo voto direto, talvez tenha sido a maior e mais verdadeira contribuição das redes de televisões à Nação brasileira. Somente o SBT de Sílvio Santos optou por não transmitir ao vivo a sessão tida como histórica.  
O serviço das emissoras de TV pode ser, em certa medida, equiparado à decisão de Sérgio Moro, juiz da Lava Jato, de “vazar” as conversas telefônicas entre Lula e seus aliados, entre eles a presidente, em articulações para livrar o ex presidente das investigações pelo juiz de primeira instância. 
Aliás, o juiz é o único brasileiro na lista de cem personalidades mais influentes do mundo, da revista americana Times.
Enquanto assistíamos ao espetáculo do Congresso, os brasileiros percebemos que dificilmente os políticos que lá estão votarão as reformas política, da previdência, fiscal, tributária, trabalhista e muitas outras absolutamente necessárias para que o Brasil “saia da lama”. 
O nosso CARÍSSIMO - de muitíssimo DISPENDIOSO - Congresso Nacional pesa cada vez mais em nosso bolso, na mesma proporção que pesa em nossa consciência o voto dado a pelo menos um deles. 
Assim, a única maneira de aliviar o peso e a vergonha de ter esta (falta de) qualidade de legisladores, como representantes, é usando a mesma justificativa usada na economia doméstica: CARO É AQUILO QUE A GENTE NÃO PRECISA. 
Deste modo, após a tal sessão histórica, cresceu em muito a proposta de realização de eleições gerais antecipadas no Brasil. 
Agora é esperar os acontecimentos, pois por enquanto o Brasil está órfão de presidente. Estamos numa espécie de limbo em que nem a presidente Dilma governa, nem seu vice e menos ainda o Congresso, cumpre seu papel. 
Esperamos que no Senado Federal, para onde foi enviado o processo de impedimento, a discussão e a votação siga em outro rumo. 
Acredita-se que os senadores, pela própria dificuldade em chegar lá, sejam mais preparados, tenham mais experiência legislativa. Mas não podemos esperar muito. 
Afinal, o Brasil não tem empregos, dinheiro, educação, leis, segurança, energia, saúde e nem tempo que possibilitem ficar esperando eternamente pela boa vontade de nossos políticos.   

JECC IV - 2022